"Morte dos Primogênitos - Afirmação da Graça"



 A série de estudos que estamos compartilhando neste bimestre tem o objetivo de nos conduzir a um “novo nível de relacionamento com Deus” analisando o caráter de Moisés, sua personalidade marcante, sua história pessoal no contexto da formação do povo hebreu, seus dilemas e a complexidade da sua relação com Deus. Entretanto, o tema que passaremos a considerar precisa ser observado por outro prisma: o prenúncio da salvação mediante o Sangue de Cristo; a relação entre o sangue do cordeiro sacrificado em holocausto passado nos umbrais da portas dos hebreus para salvar os primogênitos da morte que seria enviada (Ex 12.1-13), e o sangue do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29), vertido na cruz do Calvário, para salvar a todo aquele que Nele crê (Jo 3.16). Nessa expectativa passaremos a observar dois tópicos, precedidos de uma análise pontual sobre a substância “sangue”:

· A condição: “O Sangue”
· Morte para uns, vida para outros

Sangue

 Fluido viscoso e vermelho, essencial à vida biológica, que flui pelo organismo inteiro através do sistema circulatório, levando oxigênio e nutrientes aos tecidos e, ao mesmo tempo, removendo o dióxido de carbono e outros materiais decompostos. Nesse sentido literal, o sangue é freqüentemente mencionado nas Escrituras (Gn 37.31; Ex 23.18; II Sm 20.12; I Re 18.28; Lc 13.1), onde a alusão é o sangue tanto de seres humanos quanto de animais irracionais.

A ciência, através de estudos e pesquisas, só começou a dar importância ao sangue há cerca de 400 anos; até então, somente a Bíblia dava a essa substância o merecido lugar de destaque. Moisés, cerca de 1.400 anos antes de Cristo, já proclamava que "a alma da carne está no sangue... é o sangue que fará expiação da alma" (Lv 17.11). A declaração de Moisés abrange uma grande verdade de ordem espiritual que somente foi compreendida após a consumação da obra redentora de Jesus Cristo no Calvário.

No ano de 1628 (isto é, 3.028 anos após Moisés haver proclamado o valor do sangue como vida e como elemento de redenção da alma), o médico inglês William Harvey publicou o primeiro trabalho científico no qual mostrava que o sangue circula pelo corpo bombeado pelo coração. Mesmo assim os homens de então deram pouca importância a essa descoberta.

 No Antigo Testamento, a palavra hebraica dam, "sangue", aparece 362 vezes, das quais 203 como descrições de mortes violentas, e 103 vezes em alusão a sacrifícios cruéis. Em três passagens do Antigo Testamento, o sangue é diretamente vinculado ao princípio da vida (Gn 9.4; Dt 12.23 e Lv 17.11). O texto de Levítico mostra que, por causa desse conceito, surgiu a idéia da expiação pelo sangue.

Visto que o uso do sangue no holocausto requer a morte de alguma vítima, ele também estava associado à morte, na antiga cultura dos hebreus. De modo geral, temos nesses holocaustos alguma vida que era oferecida a Deus, envolvendo o supremo sacrifício da vítima, a saber, a sua morte. Em tudo isso fica subentendida a seriedade do pecado, porquanto o pecado requer um remédio radical: a expiação é obtida através da morte da vítima.

A condição: “O Sangue”

Após uma série de nove pragas, a derradeira marcaria para sempre o povo hebreu sob vários aspectos. 400 anos de escravidão no Egito estavam para cessar; Moisés recebe do Senhor as instruções para os preparativos da saída do povo que, originalmente, habitava nas terras de Gósen, entre elas a instituição da páscoa e a “marcação” dos portais com o sangue do cordeiro pascal para que ao passar o Senhor pela terra do Egito, identificasse as casas hebréias e não houvesse morte nelas (Ex 12.1-13).
 
É evidente que para evitar a morte em seu lar, o hebreu deveria cumprir as orientações dadas por Moisés, ou seja, holocausto do cordeiro – refeição familiar com o consumo da carne do cordeiro – “cobertura” do sangue do cordeiro, marcando os umbrais das portas de suas casas.

A relação direta entre a instituição da páscoa judaica, a salvação proporcionada àqueles que estivessem “cobertos” pelo sangue do cordeiro (Ex 12.1-13) e a Ceia do Senhor (Mt 26.19-30) e Seu sacrifício de cruz (Mt 27.33-56), é perfeitamente compreendida, senão vejamos:
· Os hebreus deveriam oferecer um cordeiro em Holocausto – Cristo deu a sua vida em sacrifício (Jo 10.17-18);
· Os hebreus deveriam comer a carne do cordeiro – na última ceia, Cristo, que é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29b), ordena em relação ao pão: “Tomai, comei, isto é o meu corpo.” (Mt 26.26b); e
· Os hebreus deveriam passar o sangue do cordeiro nos umbrais das portas para terem seus primogênitos salvos da morte – o sangue de Jesus derramado por nós nos livra dos nossos pecados e da morte eterna (Mt 26.28 e Cl 1.14).

Morte para uns, vida para outros

Na narrativa do êxodo, as orientações mosaicas implicam automaticamente na salvação de uns em detrimento da morte de outros, ou seja, os que as cumprissem seriam poupados da morte dos primogênitos, todos os demais passariam por uma das mais horrendas experiências humanas: a morte de um filho em seu lar. É interessante notar que os hebreus que não marcassem seus umbrais sofreriam as mesmas conseqüências dos egípcios, independente de sua origem.

O sacrifício de Cristo tem a mesma conotação de “morte para uns, vida para outros” visto que a condicional (sangue nos umbrais – Ex 12.7) ainda está presente (arrependimento e aceitação do Jesus como Salvador e Senhor – Jo 1.11-12; I Jo 1.9).

Conclusão

     Diante de tudo que vimos até aqui podemos visualizar a ponte, ou na linguagem mais contemporânea, o “link”, que existe entre a páscoa judaica, e todos os aspectos envoltos nela, inclusive alguns que não foram alvo de nossa abordagem, como por exemplo, o consumo de ervas amargas contrastando com a expressão “homem de dores”, e muitas outras que poderíamos ter citado.e a Ceia do Senhor e seu sacrifício cabal.

     Uma questão extremamente importante que precisa ser observada é que a morte e ressurreição de Cristo poderia ter se dado em qualquer época do ano, mas aconteceu justamente durante uma das mais importantes celebrações da cultura judaica, qual seja, a páscoa.
     
       Essa lição foi escrita por Mario Hermes, membro do Conselho de Ensino da ORLASG. .

 


 


         

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